No mesmo instante em que eu, aqui e agora,
Limpo
o suor e fujo ao Sol ardente,
Outros,
outros como eu, além e agora,
Estremecem
de frio e em roupas se agasalham.
Enquanto
o Sol assoma, aqui, no horizonte,
E
as aves cantam e as flores em cores se exaltam,
Além,
no mesmo instante, o mesmo Sol se esconde,
As
aves emudecem e as flores cerram as pétalas.'
'Enquanto
eu me levanto e aqui começo o dia,
Outros,
no mesmo instante, exatamente o acabam.
Eu
trabalho, eles dormem; eu durmo, eles trabalham.
Sempre
no mesmo instante.
Aqui
é Primavera. Além é Verão.
Mais
além é Outono. Além, Inverno.
E
nos relógios igualmente certos,
Aqui
e agora,
O
meu marca meio-dia e o de além meia-noite.
Olho
o céu e contemplo as estrelas que fulgem.
Busco
as constelações, balbucio os seus nomes.
Nasci
a olhá-las, conheço-as uma a uma.
São
sempre as mesmas, aqui, agora e sempre.
Mas
além, mais além, o céu é outro,
Outras
são as estrelas, reunidas
Noutras
constelações.
Eu
nunca vi as deles;
Eles
Nunca
viram as minhas.
'A
Natureza separa-nos.
E
as naturezas.
A
cor da pele, a altura, a envergadura,
As
mãos, os pés, as bocas, os narizes,
A
maneira de olhar, o modo de sorrir,
Os
tiques, as manias, as línguas, as certezas.
Tudo.
Afinal
Que
haverá de comum entre nós?
Um
ponto, no infinito.»'